
No dia 8 de junho de 2024, a vida da professora, ciclista e personal trainer Cleci Piardi, atualmente com 38 anos, mudou para sempre. Aquela tarde de aventura na SC-390, na cidade de Bom Jardim da Serra, na Serra do Rio do Rastro, em Santa Catarina, parecia ser apenas mais uma trilha com um grupo de 12 amigos. Mas, em uma fração de segundo, tudo mudou quando Cleci perdeu o controle da bicicleta e colidiu contra o muro de proteção da rodovia.
Com fraturas em várias costelas e na clavícula, além de perfurações no baço e no pulmão, a professora ficou em coma na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Nossa Senhora dos Prazeres, em Lages (SC), até ser transferida para o Hospital Pompéia, em Caxias do Sul.
Daquele fatídico dia até hoje, Cleci vem enfrentando uma verdadeira luta pela vida — e com vitórias, como ela mesma diz. A recuperação, um ano após o acidente e depois de incontáveis cirurgias, impressiona a família, os amigos, e até os médicos, superando as expectativas.
Após sessões de fonoaudiologia e fisioterapia, ela já se comunica com clareza e consegue ficar de pé sozinha — uma cena que deixa seus pais, Clóvis, 65, e Soleci Piardi, 78, emocionados. E, celebrando mais uma vitória, na última terça-feira (3) ela deixou a sonda de lado e ou a se alimentar sozinha.
Na última sexta-feira (6) a família recebeu a reportagem do Pioneiro em sua casa, no bairro Pio X. Sentada no sofá da sala, Cleci apontava para a parede onde estavam penduradas as inúmeras medalhas que ganhou como atleta de ciclismo, uma de suas grandes paixões, e as exibia com orgulho. Durante a entrevista, o sorriso ficou estampado no seu rosto. Do acidente, afirma não se lembrar de nada.
— Deus não quer que eu me lembre do acidente. Ele me fez esquecer — diz.
Natural de Vacaria, Cleci construiu sua vida em Caxias do Sul, onde é professora de Educação Física na escola municipal Padre Antônio Vieira, no bairro São José. Além de receber os cuidados dos seus pais em tempo integral, há nove meses é acompanhada pela cuidadora Renata Almeida, 41. Durante o período mais crítico da sua recuperação, foi a força do amor da família e dos amigos que a fortaleceram.
— Meu pai, minha mãe, minha cuidadora e minha amiga Andrea fazem tudo pelo meu progresso. E cada dia é um o diferente. Eu faço coisas importantes como escovar os dentes e tomar banho. E, aos poucos, vou conseguindo me vestir, me servir (nas refeições), e ir firmando as minhas pernas. Pode não ser nada para muitas pessoas, mas para mim é muito importante. Graças a Deus eu estou evoluindo — conta Cleci.
União de forças e fé
A amiga que Cleci citou é a advogada e também ciclista Andrea Fernandes, que estava com ela no dia do acidente. De lá para cá, Andrea não mediu forças para ajudar a amiga e sua família em tudo que fosse preciso para sua recuperação. Organizou rifas, vaquinhas online e até jantar beneficente. Conseguiu, assim, formar uma rede de amigos que se mobilizaram em prol da saúde de Cleci.

— A situação em que eu a vi no hospital, eu não achei que ela sairia de lá. E acredito que a força que eu tive para acompanhar ela veio de várias outras pessoas também que me apoiaram, como amigos, ciclistas e os colegas professores dela que deram muita força. Ver hoje ela de pé e se alimentando sozinha é uma vitória incrível — emociona-se Andrea.
Essa união de forças também foi refletida através da fé. Um grupo de cerca de 70 ciclistas e amigos da professora pedalaram rumo ao Santuário de Nossa Senhora de Caravaggio, em Farroupilha, em duas oportunidades — na primeira, em junho do ano ado, na qual rezaram pela sua saúde, e na segunda, em fevereiro de 2025, para celebrar o aniversário de Cleci, que é devota de Caravaggio e de Senhor Bom Jesus.
— Todo dia eu encontro pessoas que estão orando por mim. Isso é muito bom e significa muito para mim. São pessoas que são anjos. E são apenas anjos que estão me rodeando — revela a professora.

A cuidadora de Cleci, Renata, que vêm acompanhando a evolução da professora dia após dia, diz celebrar cada momento da sua recuperação.
— Ela é uma menina de muita força e muita garra. É muito amor envolvido. Nós criamos um laço muito grande e tem sido um aprendizado, tanto pra ela quanto pra mim. Todos os dias a Cleci surpreende a todos nós com a sua força — diz Renata.
“Foi um milagre”, diz o pai
As pequenas vitórias que Cleci vem conquistando na sua recuperação, para ela e sua família, valem mais que qualquer medalha. E cada novo movimento é motivo de comemoração.
— No início, foi muito difícil. Foi uma mudança total na nossa vida. Mas valeu a pena, porque hoje a gente vê a melhora dela. Foi uma soma de esforços, de oração e energia positiva. Para nós, foi um milagre — conta o pai, Clóvis Piardi.
Para a mãe de Cleci, Soleci, a fé e a união de todos os amigos contribuíram para a recuperação da filha.
— Foram tantos anjos na nossa vida que se uniram pela saúde da nossa filha. E, acima de tudo, a fé e o poder da oração. Então, foram vitórias e estão sendo vitórias, pois ela ainda está no processo de recuperação. Hoje nós somos uma família muito feliz por ter nossa filha aqui com a gente — emociona-se a mãe.

Cleci já ou por sessões de neuromodulação e massoterapia e, atualmente, continua com a fisioterapia três vezes por semana. Confiante na sua plena recuperação, a professora mantém vivos os sonhos e objetivos:
— Eu acredito que eu posso fazer muita coisa ainda. Pretendo, um dia, voltar a andar de bicicleta. Também penso em continuar sendo uma boa filha, uma boa amiga e uma boa mãe, pois eu tenho uma filha de sete anos que é tudo pra mim — revela.
Ao final da entrevista, a filha de Cleci, Bianca, chegou na sala e correu para abraçar a mãe. Ambas trocaram a mesma frase:
— Eu te amo muito.
